DOCUMENTÁRIO: A SERVIDÃO MODERNA
RESUMO: A servidão moderna é uma escravidão voluntária onde não há o chicote,
mas há o desejo do consumo. Não há cafezal ou fazenda, mas há o trabalho alienante
do chão de fábrica, do escritório ou do shopping. Não há o senhor do escravo,
porque contrariamente aos escravos da Antiguidade, aos servos da Idade Média e
aos operários das primeiras revoluções industriais, estamos hoje frente a uma
classe subserviente, só que não sabe, ou melhor, não quer saber. Esse
documentário francês revela o que há de mais lamentável na sociedade moderna, a
saber: a servidão voluntária que acontece a margem do entendimento e da
consciência humana.
A servidão moderna é uma
escravidão voluntária consentida pela multidão de escravos que se arrastam pela
face da terra.
Eles mesmos compram as
mercadorias que os escravizam cada vez mais. Eles mesmos procuram um trabalho
cada vez mais alienante que só lhes é outorgado se demonstram estarem
devidamente domados. Eles mesmos escolhem os mestres a quem deverão servir.
Para que esta tragédia absurda
possa ter seu lugar foi necessário tirar desta classe a consciência de sua
exploração e sua alienação.
Aí está a estranha
modernidade de nossa época. Ao contrário dos escravos da antiguidade, a dos
servos da Idade Média e a dos operários das primeiras revoluções industriais,
estamos hoje em dia frente a uma classe totalmente escravizada que não sabe de
sua condição, ou melhor, que não quer saber.
Eles ignoram a revolta, cuja é a
única e legítima reação dos explorados; aceitam sem discutir a vida lamentável
que se planejou para eles; e a renúncia e a resignação são as fontes de sua
desgraça.
Este é o pesadelo dos escravos
modernos, que almejam somente serem levados por esta dança macabra do sistema
de alienação. A opressão se moderniza expandindo, por todas as partes, as
diversas formas de mistificação que servem para ocultar nossa verdadeira
condição de escravos.
Demonstrar a realidade tal como é
e não tal como apresenta o poder, constitui a subversão mais genuína. Só a
verdade é revolucionária.
À medida que constrói o seu mundo
com a força alienada de seu próprio trabalho, a composição deste mundo se
tornará a prisão onde eles deverão viver: um mundo sórdido, sem cheiro, sem
sabor e que levam em si a miséria do modo de produção dominante. Essa
composição está em permanente construção e nada nele é constante.
A remodelação contínua do espaço
que nos rodeia é justificada pela estupidez generalizada e pela insegurança com
que convivem seus habitantes. Trata-se de mudar tudo à imagem do sistema e o
mundo torna-se como uma fábrica, cada vez mais sujo e barulhento.
Cada parcela deste mundo é
propriedade de um Estado ou de um Particular. Este roubo social, que é a
apropriação exclusiva da terra, se materializa na onipresença dos muros, das
grades, das cercas, das barreiras e das fronteiras. São as marcas visíveis
dessa separação que invade tudo.
Mas paralelamente, a unificação
do espaço segundo os interesses da cultura mercantil é o grande objetivo de
nossa triste época. O mundo deve transformar-se em uma grande estrada
absolutamente eficiente para facilitar o transporte das mercadorias, onde todo
o obstáculo, natural ou humano, deve ser destruído.
A concentração humana dessa massa
de escravos é o fiel reflexo de sua vida: assemelham-se a jaulas, a prisões e
cavernas. Mas diferente do escravo ou prisioneiro antigo, o escravo da época
moderna deve pagar pela sua própria jaula.
E neste estreito e escuro espaço
onde vive o escravo acumula as mercadorias, que segundo as mensagens
publicitárias onipresentes, deverão lhe trazer a felicidade e plenitude. Mas
quanto mais ele acumula mercadorias, mais se afasta dele a possibilidade de um
dia, ter acesso a verdadeira felicidade.
A Mercadoria: Ideologia que na
essência priva do próprio trabalho quem a produz, e despoja a vida de quem a
consome.
No sistema econômico dominante,
já não é mais a procura que condiciona oferta, senão a oferta que determina a
procura. E são assim como surgem, de maneira periódica, novas necessidades
consideradas vitais pela imensa maioria da população: primeiro foi o rádio,
logo foi o carro, depois a televisão, os computadores e agora celulares.
Tudo isso são mercadorias que são
distribuídos massivamente num curto lapso de tempo que modificam profundamente
as relações humanas: serve por um lado para isolar o homem mais e mais de seus
semelhantes, e por outro lado para difundir as mensagens dominantes do sistema.
E assim, as coisas que possuímos acabam nos possuindo.
Mas é só quando se alimenta que o
escravo moderno ilustra melhor o estado de decadência em que se encontra.
Dispondo de cada vez menos tempo
para preparar a própria comida que o alimenta se vê reduzido a consumir
rapidamente o que a indústria agroquímica produz; se perde nos supermercados em
busca das marcas que a sociedade da falsa abundância lhe concede. Mas sua
escolha não é mais do que uma ilusão.
A abundância dos produtos
alimentícios não dissemina nada além de sua degradação e sua falsificação. Não
passam de organismos geneticamente modificados misturados com corantes,
conservantes, pesticidas, hormônios e tantos outros inventos da modernidade.
A busca do prazer imediato é a
regra do modo de alimentação dominante, assim como todas as formas de consumo,
e as conseqüências desse meio de alimentação são vistas em todas as partes.
Mas frente à indigência da
maioria é que o homem ocidental se regozija de sua posição e de seu consumo
frenético. E por isso a miséria está onde quer que reine a sociedade
totalitária mercantil, pois a escassez é a outra face da moeda da falsa abundância.
A produção agroquímica é
suficiente para alimentar a totalidade da população, porém num sistema onde a
escassez determina o valor e a desigualdade é critério para progresso, a fome e
a miséria não desaparecerão jamais.
Outra conseqüência da falsa
abundância alimentar é a multiplicação das fábricas de concentração, e do
extermínio bárbaro e em larga escala das espécies que servem para alimentar os
escravos, e esta é a essência do modo de produção dominante. Lá a vida e a
humanidade não resistem mais ante a tragédia de alguns.
A pilhagem dos recursos do
planeta, a abundante produção de energia ou de mercadorias, os resíduos e os
despejos do consumo ostentoso hipotecam as possibilidades de sobrevivência da
nossa terra e das espécies que a povoam.
Mas para dar passagem para o
Capitalismo Selvagem o crescimento não deve parar jamais. Há que se produzir,
produzir e produzir cada vez mais.
Os mesmos que contaminam o
planeta são os que se apresentam atualmente como salvadores do planeta. São os
imbecis da indústria do espetáculo patrocinados pelas empresas multinacionais
que tenta nos convencer que uma simples mudança em nossos hábitos bastará para
salvar o planeta do desastre.
E enquanto nos culpam, continuam
contaminando sem parar o meio ambiente e nosso espírito. Essas pobres teses
falsamente ecológicas são repetidas por todos os políticos corruptos que
necessitam de slogans publicitários, mas que não se atrevem a propor uma
mudança radical no sistema de produção. Trata-se como sempre de mudar alguns
detalhes para que o essencial siga o mesmo.
Para entrar na ciranda do consumo
frenético é preciso de dinheiro, e para se tê-lo, é preciso trabalhar, ou
melhor, “vender-se”.
O sistema dominante fez do
trabalho seu principal valor, e os escravos devem trabalhar cada vez mais para
pagar a crédito sua vida miserável.
Esgotam-se no trabalho, perdem
com ele a maior parte de sua força vital e tem que suportar as piores
humilhações.
Passam a vida toda fazendo uma
atividade fatigante e monótona para o benefício de poucos.
A tensão do desemprego moderno
tem como propósito assustá-los e fazê-los agradecer sem parar a generosidade do
poder, afinal o que fariam sem essa tortura que é o trabalho?
São essas as atividades
alienantes as que nos apresentam como liberdade e autonomia: quanta mesquinhez
e que desprezo!
Sempre pressionados pelo
cronometro ou pela campainha, cada ação dos escravos está calculada para
aumentar sua produtividade.
A organização científica do
trabalho constitui a essência da disposição dos trabalhadores, do fruto de seu
trabalho, e do tempo que passam na produção automática das mercadorias e dos
serviços.
A atividade do trabalhador
confunde-se com a de uma máquina em uma fábrica ou de um computador em um
escritório. Mas o tempo pago não se recupera jamais.
Desta maneira cada empregado está
ligado a um trabalho repetitivo, seja intelectual ou físico; é um especialista
em sua área de produção e essa especialização se reproduz em escala planetária
no marco da Divisão Internacional do Trabalho: Se concebe no Ocidente, se
produz na Ásia e se morre na África.
À medida que o sistema de
produção coloniza todos os setores da vida, o escravo moderno não satisfeito
com sua servidão no trabalho, segue desperdiçando seu tempo nas atividades de
diversão e férias planejadas.
Nenhum momento de sua vida escapa
da influência do sistema. Cada instante de sua vida foi invadido
A degradação generalizada de seu
meio ambiente, do ar que respira, da comida que consome, o estresse de sua
condição de trabalho e da totalidade de sua vida social são as origens das
novas doenças dos escravos modernos.
Mas sua condição servil é uma
doença para a qual nunca existirá remédio. Somente a completa libertação da
condição na qual se encontra pode permitir ao escravo moderno sair de seu
sofrimento.
A medicina ocidental não conhece
outro remédio contra os males do escravo moderno, senão a “mutilação”: esse é o
princípio da cirurgia, dos antibióticos ou quimioterapias que trata os
pacientes da medicina mercantil.
Nunca se ataca a causa dos males,
mas somente suas conseqüências, pois a busca das causas de tantos males nos
conduziria inevitavelmente à condenação implacável da organização social
vigente.
E assim como o sistema converteu
cada elemento do nosso mundo numa simples mercadoria, o mesmo aconteceu com
nosso corpo: um objeto de estudos e experimentos para os pseudo-sábios da
medicina mercantil e da biologia molecular. E hoje, os mestres do mundo estão a
ponto de patentear tudo o que vive.
A decodificação completa do
genoma do corpo humano é o ponto de partida para uma nova estratégia posta em
ação pelo poder, ou seja, a decodificação genética não tem outra finalidade
senão ampliar consideravelmente as fontes de lucro, bem como as formas de dominação
e controle.
E como tantas outras coisas,
nosso corpo já não nos pertence mais.
Pela a educação compulsória e a
obediência forçada o escravo cresce obtendo reflexos de submissão. O melhor de
sua vida escorre pelos seus dedos, mas ele continua porque tem o costume de
obedecer sempre. A obediência se converteu na sua segunda natureza e ele
obedece sem mesmo saber por que, apenas sabe que deve obedecer.
Obedecer, Produzir e Consumir: aí
está a tríade que domina sua vida.
Obedecem a seus pais, seus professores,
seus patrões, seus proprietários e seus negociantes. Obedecem as leis e as
forças de ordem. Obedecem todos os poderes porque não sabe fazer outra
coisa e não há nada que o assuste mais do que a desobediência porque a
desobediência é o risco, a aventura e a mudança.
E assim como uma criança que
entra em pânico quando se perde de seus pais, o escravo moderno se sente
desorientado sem o poder que o doutrinou e também por isso continua obedecendo.
O medo fez de nós escravos e nos
mantém nessa condição. Inclinamos-nos diante dos mestres do mundo, aceitamos
essa vida de humilhações e de miséria somente por temor.
Entretanto, dispomos da força
numérica em face de uma minoria que governa. Sua força não se obtém de sua
polícia, mas sim de nosso consentimento. Justificamos nossa covardia em relação
ao enfrentamento legítimo contra as forças que nos oprimem com um discurso
cheio de humanismo moralizador.
A recusa pela violência
revolucionária está cravada nos espíritos daqueles que se opõem ao sistema,
justificada por valores que o próprio sistema lhes ensinou. Mas quando o
sistema trata de conservar sua hegemonia ele não vacila nunca em utilizar-se da
violência.
Existem alguns indivíduos que
escapam do sistema de controle de alienação, mas estes vivem em constante
vigilância. Todo o ato de rebelião ou resistência é assimilado como uma
atividade desviada ou terrorista.
A liberdade não existe senão para
aqueles que defendem os imperativos mercantis. A verdadeira oposição ao sistema
dominante é totalmente clandestina, pois contra estes opositores, a repressão é
a regra vigente.
E o silêncio da maiora dos
escravos frente a tal repressão é justificado pela insistência dos meios de
comunicação e políticos em omitir e negar o verdadeiro conflito existente na
presente sociedade.
E como todos os seres oprimidos
da história, o escravo moderno necessita de sua mística e de seu Deus para
anestesiar o mal que lhe atormenta e o sofrimento que lhe deprime.
Mas esse novo Deus a quem lhe
entregou sua alma não é mais que nada: um pedaço de papel; um número que só tem
sentido porque todos decidiram dar.
É por esse novo Deus que ele
estuda, que trabalha, ri e se vende. Por ele, o escravo moderno abandonou seus
valores e está disposto a fazer o que seja. O escravo crê que quanto mais
dinheiro possua, mais se livrará da coação que o subjuga, como se a posse fosse
à via para a liberdade.
Mas a liberdade se aproxima à
medida que se tem o domínio de si mesmo; um desejo, uma vontade de agir e,
sobretudo está no Ser e não no Ter. Mas há que decidir se não vai servir e nem
obedecer mais. É árduo ser capaz de romper com os hábitos que todos, ao
que parece, supõem ser o justo.
O escravo moderno está convencido
de que não existe alternativa para a organização do mundo presente. Resignou-se
a esta vida porque pensa que não pode ser de outra forma e aí onde reside à
força da dominação presente: fazer crer que este sistema que colonizou toda a
superfície da Terra seja o “final da história”. Convenceram a classe dominante
de que adaptar-se a sua ideologia equivale a adaptar-se ao mundo tal como é, ou
tal como sempre foi.
Rever outro mundo converteu-se
num crime condenado única e somente por toda a mídia e por todos os poderes,
quando na verdade, o criminoso é aquele que contribui, conscientemente ou não
com a demência da organização social dominante.
Não há loucura maior que a do
sistema presente.
Frente à desolação do mundo real,
torna-se necessário para o sistema colonizar também a mente dos escravos. E por
isso o sistema dominante preferiu progressivamente usar, ao invés da repressão,
a dissuasão e que desde a idade mais tenra, cumpre o papel preponderante na
formação dos escravos.
Ele deve esquecer-se de sua
condição servil, sua pressão e sua vida miserável. Basta conter essa multidão
hipnotizada conectando-as as “telas” que acompanham sua vida cotidiana. Eles
disfarçam sua insatisfação permanente com o reflexo manipulado de uma vida
idealizada em sonhos, cheia de dinheiro, de romances, de glória e de aventuras.
Mas seus sonhos são tão lamentáveis como sua vida miserável.
Existem imagens para todos e para
tudo. São as portas para as mensagens da sociedade moderna que servem de
instrumento de unificação e propaganda, e multiplicam-se à medida que o homem é
tirado de seu mundo e de sua vida.
É o menino, o primeiro consumidor
dessas imagens. Tem-se que transformá-los em estúpidos e extirpá-los de toda a
forma de reflexão e de crítica. E tudo isso se faz claramente, com a
cumplicidade desconcertante de seus próprios pais que se renderam frente à
força dos meios de comunicação modernos.
Eles mesmos compram todas as
mercadorias necessárias para a escravização de deus descendente. Desentendem-se
quanto à educação de seus filhos e as entregam para a tutela do sistema de
embrutecimento e da mediocridade.
Há imagens para todas as idades e
todas as classes sociais. Os escravos modernos acabam confundindo essas imagens
com cultura, e ocasionalmente, até com arte.
Recorre-se constantemente aos
instintos mais baixos para venderem qualquer mercadoria, e é a mulher,
duplamente escrava, que paga o preço mais alto na presente sociedade: ela é
apresentada como simples objeto de consumo.
Até a revolta acabou sendo
reduzida a uma imagem desprovida de seu real potencial subversivo.
A imagem segue sendo a forma de
comunicação mais direta e mais eficaz: constrói modelos, embrutece as massas,
mente, cria frustrações e incute a ideologia do sistema mercantil. Sim.
Trata-se, pois, mais uma vez do mesmo objetivo: vender. Vender produtos, ou
idéias, ou comportamentos, ou modelos de vida, não importa o quê, mas vender.
Esses pobres homens divertem-se
apenas para esquecer-se do autêntico mal que os atormenta. Deixaram que
fizessem de sua vida qualquer coisa e fingem sentirem-se orgulhosos. Tentam
reluzir satisfeitos, mas ninguém acredita e frente ao frio reflexo do espelho,
conseguem enganarem a si mesmos e perdem seu tempo diante de uns imbecis que os
fazem rirem ou cantar, sonhar ou chorar.
Através do esporte de massas, o
escravo moderno vive as vitórias e as derrotas, os esforços e as dores que não
pode viver na própria pele. Sua insatisfação o obriga a viver por encargo
frente ao aparelho de televisão.
Enquanto os imperadores de Roma
antiga compravam a submissão de seu povo com pão e circo, atualmente é com
diversões e um consumo cego com que se compra o silêncio dos escravos.
O controle das consciências é o
resultado da utilização viciada da linguagem pela classe social economicamente
dominante. Sendo eles os donos de todos os meios de comunicação, o poder
difunde a ideologia mercantil através da definição fixa, parcial e emanada que
atribui às palavras.
As palavras são apresentadas como
se fossem neutras e sua definição como evidente. Controladas pelo poder
designam sempre um conteúdo bem diferente do encontrado na vida real.
E ante toda uma linguagem de
resignação, de impotência e de aceitação passiva das coisas tal como são e tal
como devem permanecer, as palavras atuam por conta da organização
dominante de nossa sociedade. E já que o poder utiliza-se de sua própria
linguagem, acaba por nos condenar a impotência.
A linguagem é o ponto primordial
na luta pela emancipação humana. Para o poder não é uma forma de dominação que
se junta à outra, mas sim o epicentro do sistema mercantil que mantém a
submissão dos escravos.
É através da reapropriação da
linguagem, e, portanto, da comunicação real das pessoas que surge novamente a
possibilidade de uma mudança radical. E nesse sentido é que o projeto
revolucionário converge com o projeto poético.
Na efervescência popular, a
palavra falada é reaprendida e reinventada por grandes grupos e a
espontaneidade criativa está em cada um e une a todos.
Não obstante, os escravos
modernos ainda sentem-se cidadãos. Acreditam que votar é decidir livremente
quem conduzirá seus assuntos como se ainda pudessem escolher.
Mas quando se trata de decidir
entre a sociedade em que querem viver, eles acreditam que exista uma
fundamental divergência entre a social-democracia e a direita nacionalista na França,
entre os democratas e republicanos nos EUA, ou entre os liberais ou
conservadores na Colômbia. A verdade é que não existe nenhuma oposição, visto
que todos esses partidos estão de acordo no essencial: que é a conservação da
presente sociedade do sistema mercantil.
Nenhum dos partidos políticos que
possam ter acesso ao poder põem em questão o dogma do Mercado. E são esses
mesmos partidos, que com a cumplicidade de mídia se camuflam nas telas. Brigam
por pequenos detalhes com o intuito de que tudo continue como sempre
esteve. Disputam para saber quem ocupará os postos que o Parlamento
Mercantil lhes oferece.
Essas pobres crenças são
difundidas por todos os meios de comunicação com a finalidade de ocultar um
verdadeiro debate: a escolha da sociedade em que queremos viver. A aparência e
a futilidade se sobressaem sobre o enfrentamento das idéias. Tudo isso
não se assemelha em nada, nem de longe, com uma sociedade democrática.
A democracia real se define em
primeiro lugar, antes de tudo, pela participação massiva dos cidadãos na gestão
dos assuntos da cidade. É DIRETA e PARTICIPATIVA. Sua expressão mais autêntica
encontra-se na Assembléia Popular e no diálogo permanente da organização da
vida cotidiana em comum.
A forma representativa e
parlamentar, que usurpa o nome de democracia, limitam o poder dos cidadãos ao
simples direito de votar. Ou seja: a nada. Escolher entre cinza clara ou cinza
escuro não é decisão alguma. As cadeiras parlamentares são ocupadas em sua
imensa maioria pela classe economicamente dominante, seja da direita ou da
pretensa esquerda social-democrata.
O poder não há de ser
conquistado, mas sim há que ser destruído. Ele é tirano por natureza, seja
exercido por um rei, um ditador ou um presidente eleito. A única diferença no
caso da democracia parlamentar é que o escravo tem a ilusão de escolher, eles próprios,
os mestres que deverão servir. O voto os fez cúmplices da própria tirania
que os oprime.
Eles não são escravos porque
existem mestres, mas sim, os mestres existem porque eles escolheram manterem-se
escravos.
O sistema dominante se define
pela onipresença de sua ideologia mercantil. Ocupa de vez todos os espaços e
setores da vida. Não declaram nada mais que a necessidade de produzir, vender,
consumir e acumular.
Reduziu todas as relações humanas
a medíocres relações mercantis, e consideram o nosso planeta como uma simples
mercadoria. A função que nos designam é o trabalho servil. O único direito que
se reconhece, é o direito da propriedade privada. O único Deus que cultuam é o
dinheiro.
O monopólio da aparência é total:
somente aparecem os homens e os discursos favoráveis à ideologia dominante. A
crítica deste mundo se afoga no mar midiático que determina o que está bem ou o
que está mal; o que se pode ver e o que não se pode ver.
A “Onipresença da Ideologia”, o
“Culto ao Dinheiro”, o “Monopólio da Aparência”, o “Partido Único” disfarçado
de pluralismo parlamentar, ausência de uma oposição visível reprimida de todas
as formas, programa de transformação do homem e do mundo.
São essas as verdadeiras facetas
do totalitarismo moderno que eles chamam de democracia liberal. Mas que é mais
que tarde em chamar por seu verdadeiro nome: Sistema Totalitário Mercantil.
O homem, a sociedade e todo o
nosso planeta estão a serviço desta ideologia. O Sistema Totalitário Mercantil
conseguiu o que nenhum outro totalitarismo havia conseguido: ocupar cada
resquício de nosso planeta.
Hoje em dia, nenhuma forma de
exílio é possível.
Documentário, 2009, 52 min.; COR.
Direção: Jean-François Brient e Victor León Fuentes. Link: https://www.youtube.com/watch?v=Ybp5s9ElmcY
Texto de Célio Bernardo, site facesocial:
consciência crítica
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