4º PARTE - FINAL. Continuação do texto “Chavismo como redentor social: entre o mito e a realidade. Uma crítica pela esquerda”. (Post 4).

4º PARTE - FINAL.
Continuação do texto “Chavismo como redentor social: entre o mito e a realidade. Uma crítica pela esquerda”. (Post 4).
A condução política chavista evita, a todo custo, que o protagonismo ativo de massa se imponha.
4. O contexto político, a crise do chavismo. Conclusão.
Portanto, parte essencial da política chavista vem sendo a de usar a alta do preço do petróleo nos últimos anos para capitalizar massas populares que vinham de uma trajetória anterior de rebeliões memoráveis. Ele não criou o estado de rebelião popular na Venezuela: o chavismo é muito mais fruto político daquele processo anterior de ascenso de lutas no qual o proletariado não contou com sua própria liderança de classe a tempo. No entanto, contando com o poder político, o chavismo trata de não mudar o fundamental mesmo contando com as inegáveis vantagens de aproximadamente quinze anos de governo e nem com toda renda do petróleo e simpatia popular maciça.
O apoio popular é inegável. No entanto, a condução política chavista evita, a todo custo, que o protagonismo ativo de massa se imponha: “O heroísmo das massas venezuelanas fez retroceder duas vezes a tentativa de golpe dirigida pelo imperialismo em aliança com a burguesia entreguista. A insurreição das massas contra o golpe de 2002 controlou Caracas e as principais cidades do país e, em dois dias derrotou a cúpula do exército e forçou os golpistas e retrocederem. À burguesia não restou outra alternativa senão permitir a volta de Chávez ao governo como única saída para recuperar o controle das massas insurrectas.  Chávez, ao voltar ao poder, tratou de conciliar com a direita golpista e evitou medidas duras que lhe tirasse suas fontes golpistas de poder, tanto nos meios de comunicação, como na indústria do petróleo. O que Chávez fez primeiro foi um chamado para que a população rebelada confiasse nas instituições e voltasse para suas casas, e que fossem desarmadas as milícias formadas no enfrentamento ao golpe” (WEIL - 3).
É certo que setores importantes da burguesia que se lançaram contra Chávez e o chavismo reagem à concentração de poder, mas também outros setores de trabalhadores, idem, reagiram e certamente refletem, em parte, o esgotamento dos projetos assistencialistas sociais do chavismo. Algum problema existe na sua política social, não fosse assim, teria crescido ou se mantido o seu apoio.
“Se as classes mais pobres tinham aplaudido em outros tempos o espetacular aumento dos créditos alocados aos programas sociais durante os últimos quatro anos, elas estão hoje decepcionadas e frustradas. Seu desapontamento se deve principalmente à maneira ineficiente como esses programas são geridos pela burocracia e pela corrupção dos círculos de poder, em todos os níveis. Organizada (pela oposição) ou não, a recente escassez de leite não ajudou. Na maior parte dos meses de outubro e novembro, foi de fato praticamente impossível encontrar leite fresco, dificílimo achar leite em pó e muitos outros produtos” (WILPERT, 2008: 11).
Este é o contexto político atual da Venezuela e que, em parte, leva o governo a algumas mudanças episódicas e completamente contraditórias (em direção à massa e em direção à direita). O chavismo sabe que enfrentará as urnas dentro de pouco tempo nas eleições. Procura, na fase atual, tentar recuperar votos através de medidas sociais. Mas, ao mesmo tempo ele trata de apoiar-se em setores da burguesia e da opinião pública pequeno burguesa. Em parte isso explica aquela mudança de política em relação às FARC colombianas (com suas felicitações ao narco-genocida Uribe e suas declarações no começo de junho: “libertem os reféns sem pedir nada em troca” e ainda acrescentando que “a guerra de guerrilha passou e a luta armada está fora de lugar”).
A título de considerações finais, pode-se dizer que é necessário desconsiderar aspectos essenciais e até determinantes da realidade quando se pretende incluir o chavismo como movimento político no campo da emancipação social revolucionária. E pior, não apenas é necessário esconder muita coisa para valorizar o chavismo como socialista ou revolucionário como, por outro lado, desconsiderar o caráter preventivo, isto é, de contenção do processo revolucionário, de classe, que o chavismo representa.
Mesmo em nome da democracia (ou da absolutização da democracia do voto, parlamentar-burguesa) não se pode ir tão longe no reconhecimento revolucionário do chavismo:  “A verdade é que a democracia venezuelana – onde acontecem eleições nas quais ´a maioria pobre´ vota recorrentemente em Chávez e atualmente no chavismo, mas na qual quem decide é o presidente, que concentra ´poderes especiais´ - não serviu para que essas maiorias mudem qualitativamente sua situação em relação a revolução bolivariana ou sequer naqueles anos de crescimento econômico. Isso não acontece apenas na Venezuela mas em todos os países semi-coloniais do continente. O regime capitalista não produz pobreza porque seja antagônico com a existência de eleições, mas porque uma classe minoritária se apropria da riqueza social. Esta é a verdadeira ditadura que impera na América Latina” (ROMANO - 13). Grifo nosso.
Por esta e outras razões é mais que necessário ampliar a abrir o debate sobre a chamada revolução bolivariana.

Resumo: É muito forte a imagem do chavismo como um transformador social, seja no meio da esquerda acadêmica como no seio dos movimentos populares. Nesta série de posts são discutidos elementos que, na ótica aqui enfocada, devem ser levados em conta quando se pretenda uma compreensão daquele processo político venezuelano mais fundada nos elementos de classe.

Referência (Completa)                                

ANTUNES, Jair, 2007. Hugo Chávez, México e o ‘bolivarismo do século XXI, 17.2.2007. Disponível em: www.wsws.org/pt/2007   (11)

COGGIOLA, Osvaldo, 2008, América Latina Siglo XXI: una revolución en marcha? Mimeo. (7)

DOWD, Doug, 2007. Venezuela: Who could have imagined? In: Monthly Review, may 2007, volume 59, n. 1. Disponível em: www.monthlyreview.org (2)

ITURBE, Alejandro, 2004. Passado e presente do nacionalismo burguês. In: Marxismo Vivo, São Paulo, n. 10, novembro 2004, p. 68 a 72.(6)

LOPEZ, Juan Torres, LOPEZ, Maurício Matus, 2007. La revolución bolivariana: ambivalências internas y proyeción externa. Disponível em: www.rebelion.org (10)

MAIELLO, Matias, 2007. Chávez, Perón y el “socialismo del siglo XXI”: los derroteros del “nacionalismo burguês” en la decadencia capitalista y sus apologistas “de izquierda” de ayer de hoy. In: Lucha de classes (Revista de Teoria y Política Marxista), Buenos Aires, n.7, p.77 a 107. (8)

RAMÍREZ, Roberto, SÁENZ, Roberto, 2005. Rebeliones en América Latina. Buenos Aires: Antídoto. (10)

RAMONET, Ignácio, 2007. Hugo Chávez. In: Le Monde Diplomatique – BRASIL, São Paulo, n. 3, outubro 2007, p. 13. (5)

ROMANO, Manolo, 2007. Cuatro preguntas sobre el proyecto de Chávez. In: Jornal La Verdad Obrera, Buenos Aires, n.226, 15/3/2007 (13)

SAMPAIO, Plínio de Arruda, 2007. Populismo ou revolução? In: Le Monde Diplomatique – BRASIL, São Paulo, n. 3, outubro 2007, p. 13. (4)

SANJUAN, Ana Maria, 2007. Claro-escuros bolivarianos. In: Le Monde Diplomatique – BRASIL, São Paulo, n. 3, outubro 2007, p. 10-12. (1)

WEIL, Joseph, 2004. O que é o chavismo? Nacionalismo burguês em tempos de recolonização. In: Marxismo Vivo, São Paulo, n. 10, novembro 2004, p. 73 a 82. (3)


WILPERT, Gregory, 2008. Por que o plebiscito deu no que deu? In: Le Monde Diplomatique – BRASIL, São Paulo, n. 6, janeiro 2008, p. 10-11. (12)

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