COMO APOIAR A PALESTINA SEM DEIXAR DE SUBMETER À CRÍTICA O HAMAS (OU QUALQUER OUTRO MOVIMENTO RELIGIOSO)?
Resumo: Defender a
Palestina não é defender incondicionalmente o Hamas. Identificar que o apoio ao
Hamas é crítico, não significa defender Israel e o imperialismo. Reconhecer e
apoiar o Hamas é adotar a tática de que as revoltas dos oprimidos podem
desestabilizar e enfraquecer o imperialismo. Mas o Hamas é um movimento
religioso (islâmico). Daí, caetaneando: “tudo é perigoso. Tudo é divino
maravilhoso. Atenção para o refrão É preciso estar atento e forte. Não temos
tempo de temer a morte (...)”.
Constantemente somos convidados a ler, ouvir, participar e até a
compartilhar a bandeira da luta da Palestina contra os abusos desproporcionais
(com permissão do pleonasmo enfático) dos ataques israelenses. Somos convidados
a constatar o massacre ao povo palestino e a negação do seu direito em formar um
Estado e à liberdade. Nada mais justo e necessário diante da opressão e
exploração.
Todavia, alguns pressupostos se fazem necessários, especialmente
quando aqui no Brasil muitos defendem o Estado laico contra a candidatas à
presidência da República apoiadas (e influenciadas) por igrejas:
Primeiro, nunca perder de vista que Israel é o maior cão de guarda
para os interesses imperialistas na região do Oriente Médio, especialmente para
os EUA.
Segundo, o Hamas é um movimento religioso como os outros movimentos
islâmicos reacionários: irmandade mulçumana, ansar beit al-maqdis, jabhat
al-nusra e EL.
Evidentemente que os movimentos religiosos (islâmicos) em diferentes
países, períodos e contextos, não são todos iguais. É preciso entender esses
movimentos no contexto histórico em que surgiram, e em termos de seu conteúdo
social e de classe, e seus objetivos políticos. Ou melhor, tentar compreender
se tais movimentos estão resistindo a regimes reacionários e imperialistas,
mesmo que de modo vacilante e distorcido, bem como se eles são hostis à luta e
unidade das massas exploradas e oprimidas, de maneira a servir aos interesses
do imperialismo e regimes reacionários. Como por exemplo: considero que o
movimento EL na Síria e Iraque como reacionário até a medula, cujo racismo e
crimes contra mulçumanos xiitas, curdos, sunitas e cristãos acaba com qualquer
idéia de que a unidade dos oprimidos é fundamental para resistir ao
imperialismo.
Chicas - Divino Maravilhoso, de Caetano Veloso
O caso do Hamas é interessantíssimo porque o movimento passou a
resistir ao imperialismo e entrou em muitos confrontos e lutas com sionismo em
defesa dos legítimos interesses do povo palestino.
Aliás, o Hamas ganhou muita popularidade entre os palestinos por causa
de sua rejeição às concessões e entregas que o Fatah oferecia a Israel e aos
EUA.
Nessa perspectiva, o Hamas está engajado em lutas militares ou
não-militares contra Israel, enfraquecendo os EUA e países árabes reacionários,
fortalecendo, em potencial, a luta de classes nos países árabes contra o
imperialismo.
Nada obstante, o apoio ao Hamas não pode ser acrítico. O Hamas
associa-se com alguns regimes árabes (islâmico ou não) e regimes não-árabes que
são reacionários que reprimem o seu povo e constantemente conspiram contra o
povo palestino. Tais países apenas gostam do heroísmo e da firmeza do povo
palestino como catalisador para adquirir legitimidade, uma vez que a população
interna desses países apoiam a causa palestina.
Apesar do extraordinário heroísmo e coragem do Hamas (que defende
bravamente contra qualquer ataque israelense em circunstâncias impossíveis,
acendendo a esperança de que existe povo e gente corajosa), ele adota uma
abordagem elitista para lidar com as massas palestinas: usam como ferramentas,
cujo papel da população palestina é apoiar a luta armada com obediência a
direção revolucionária, ao invés da participação popular no desenvolvimento de
uma estratégia de resistência e tomada de decisões.
Ora, essa abordagem enfraquece
a capacidade de resistência da massa a longo prazo em face de um
inimigo, que a cada dia dispõe de armas mais letais.
Assim, o apoio que o Hamas deve merecer vai até o limite máximo de ser
uma batalha contra o sionismo e configurar uma elemento de desestabilização do
imperialismo. E também porque como todos os povos, o Palestino tem o direito de
decidir o seu destino. E isso inclui o direito de escolher sua própria liderança,
estrutura social e adotar meios de resistências que sejam adequados às
circunstâncias para sua defesa.
É possível fazer um paralelo com as múltiplas e diversificadas
revoltas dos oprimidos que ajudam na desestabilização do sistema capitalista,
tais como os cristãos no Egito ou no Iraque, as pessoas da raça negra nos EUA,
os povos colonizados pelas potencias em repúdio ao colonizador, como a
Palestina, no caso do mundo árabe.
Tratam-se de movimentos que, apesar de todas as suas facções e
reservas que qualquer marxista deva ter a respeito, desempenham um papel
fundamental na desestabilização do sistema imperialista, inclusive, abrindo
perspectivas para a ascensão da luta de classes no mundo árabe.
Entretanto, jamais podemos perder o compromisso marxista de construção
de uma sociedade democrática, através da luta e organização das massas
exploradas e oprimidas.
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