A GUERRA IMPERIALISTA E O ESTADO ISLÂMICO: O SOCIALISMO DEFENDE E BUSCA A EMANCIPAÇÃO HUMANA. SEMPRE!

RESUMO: O texto submete à crítica o tímido ou aparente apoio das esquerdas ao Estado Islâmico.Vê-se por parte dos movimentos socialistas, ou a demonstração de certa simpatia pelo Estado Islâmico, quiçá porque esse Estado representa o lado mais fraco na guerra contra os imperialistas. Ou um sutil contentamento (e muito sadismo) diante dos bárbaros crimes de guerra a que os soldados e jornalistas dos EUA e aliados são submetidos quando capturados. O silêncio sobre o Estado Islâmico reforça tal entendimento. Este texto está separado em 2 partes. Na primeira parte, se faz uma breve exposição dos fatos atuais que envolvem as guerras no oriente médio. Na segunda parte, o repúdio aos imperialistas e ao Estado Islâmico, lembrando as teses marxistas de que o socialismo busca a emancipação humana.





I - Para Entender Melhor o que se passa no Oriente Médio
Sabe-se que:
1)   Os Estados Unidos da América (EUA) foram e são elemento de desestabilização na região do Oriente Médio. Existe um objetivo geral imperialista, independentemente da particularidade do momento, que é fazer do Oriente Médio um local seguro para os interesses capitalistas. Os presidentes americanos (Obama, e antes dele Bush e outros) querem cultivar Estados “clientes” naquela região;
2)   Por um longo tempo, os EUA apoiaram os Estados sunitas do Oriente Médio (leia-se Iraque de Saddam Hussein) contra os xiitas (Leia-se o Irã e sua revolução de 1979);
3)   Após a guerra do golfo (queda de Saddam Hussein no Iraque porque invadiu o Kuwait – também sunita), os EUA não buscaram um Iraque desintegrado, de modo que exigiram a formação de governo multicultural (sunita, xiita e curdo, entre outros), pois assim o petróleo de toda a região do Iraque pôde permanecer sob o controle do governo iraquiano que é submisso aos EUA, facilitando a implantação de infraestrutura única (aspecto econômico e logístico de mercado) e a negociação (aspecto político, diplomático e estratégico);
4)   Todavia, o antigo primeiro-ministro do Iraque Nuri al-Maliki (primeiro eleito) liderou um governo xiita sectário que sistematicamente discriminou os sunitas (que formavam a elite do Iraque na época Saddam Hussein e, por sua vez, naquela época perseguiam os xiitas, diante da guerra Irã-Iraque. Trata-se de um conflito entre a nova e antiga classe dominante);
5)   Diante do surgimento do Estado Islâmico, os EUA apoiam as forças de segurança do Iraque, formada pelos xiitas no Iraque (base do governo iraquiano), que ampliaram os partidos pró-Irã, milícias xiitas e esquadrão da morte contra os sunitas;
6)   Por sua vez, os sunitas estão se aliando ao Estado Islâmico, diante da frustração e raiva que eles sentem do governo sectário que não os incluiu (E na busca de reconquistar o poder político e econômico de classe);
7)   As milícias xiitas não são diferentes do Estado Islâmico: eles decapitam, torturam sunitas ou qualquer um que discorde deles. A diferença é que ao contar com o apoio dos EUA, a mídia internacional não destacam as suas atrocidades. O importante a frisar, ambos utilizam métodos bárbaros;
8)   Assim, a maior ferramenta de recrutamento para o Estado Islâmico é os EUA e a força xiita apoiada pelo Irã. (Lembre-se que os sunitas são apoiados pelo Quatar e Arábia Saudita, mas estes dois países mantém vínculos com os EUA, o que não os impedem de prestarem ajuda financeira aos sunitas que estão no Estado Islâmico);
9)   Ademais, mesmo sem a completa comprovação, mas há fortes indicações de que Israel apoia o Estado Islâmico – como forma desse Estado ser contraponto ao islã do Irã e ao Governo da Síria, atualmente os 2 principais adversários de Israel;
10)   Sobre o item 8 e 9, são enormes as teias de traições, compromissos e de quem se sente “mais esperto” do que o outro;
11)   Os curdos nesse tabuleiro foram traídos, porque não contaram com o apoio dos EUA para a formação de um Estado curdo (prometido desde a época da guerra do golfo). Melhor dizendo, os EUA fizeram todos os esforços necessários para impedir qualquer desenvolvimento da autonomia curda, seja em razão da proximidade deles com a Ásia que é afinada com a Rússia, seja pelo que já foi exposto no item 2 acima;
12)   É bom lembrar que o Estado Islâmico, em seu primórdio, foi alimentado pelos EUA como forma de se opor aos grupos de resistência de esquerda, como o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e o “seu braço” na Síria, o Partido da União Democrática (PYD), que apoiam a autonomia curda e a justiça social na Síria;
13)  Novamente é bom lembrar que a chamada “Revolução Síria” começou, em parte, como uma revolta alimentada pelos EUA contra o regime político. Na ocasião, o ditador Assad tentou esmagar, matando dezenas de milhares de pessoas e forçando a luta armada –começo do chamado Exercito Livre da Síria. Ou seja, o ditador cometeu um erro injustificável que legitimou a propaganda dos EUA. Todavia, em parte o povo sírio também se levantou contra os efeitos do neoliberalismo que Assad começou a implantar no país. Havia ali uma busca por empregos e melhores condições de vida;
14) Atualmente os EUA pararam de atacar o regime de Assad e “supostamente” focam os ataques no Estado Islâmico. Todavia, eles não estão fornecendo recursos ao Exercito Livre da Síria, mas aos comandantes individuais que se mostram mais próximos dos interesses americanos. Ao fazer isso, os EUA podem criar os senhores da guerra, tal como ocorreu no Afeganistão, além da corrupção e arbitrariedades, o que tem levado vários militantes para longe do Exercito Livre da Síria e para próximo dos grupos islâmicos;
15)    A questão é que outra intervenção militar dos EUA, provavelmente, só vai piorar a situação, uma vez que vários dos atuais problemas dos países envolvidos decorrem das intervenções militares anteriores;
16)  Até o presente momento, a chamada “primavera árabe” não trouxe nenhuma semente de emancipação para os povos do oriente médio, sequer o cheiro meramente floral das liberdades burguesas (direitos individuais, civis, sociais e quiçá direitos fundamentais de 4º geração). O Egito trocou a ditadura de Hosni Mubarak por outro general de plantão (Abdel Fattah Sisi). E a Líbia se afunda em guerras tribais após o colapso de Muammar al-Gaddafi. E nos protetorados americanos (Kuwait, Arábia sSaudita e Quatar, como por exemplos), que são completamente absolutistas medievais, sequer "pode-se ouvir falar em flores".


II. Para não Perder o Foco de uma das Finalidades do Socialismo: A Emancipação Humana.
Sobre o combate ao chamado Estado Islâmico, os pacifistas no Brasil sob o mote de movimentos de esquerda têm dado às manifestações um caráter exclusivamente antiamericano que não convence (1), pois não levam em consideração o fundamentalismo religioso e o total repúdio do Estado Islâmico para com a emancipação da sociedade, inclusive esse Estado tem descompromisso para com a limitada (mais importante) emancipação política (2), mediante a conquista da democracia burguesa e de cidadania.
Lembre-se que a emancipação política é o resultado das declarações das revoluções burguesas, mediante a conquista teórica dos direitos fundamentais de 1º geração (direitos humanos básicos e direitos civis). Portanto, no campo socialista trata-se de emancipação da burguesia e não da humanidade. “A emancipação política de fato representa um grande progresso; não chega a ser a forma definitiva da emancipação humana em geral, mas constitui a forma definitiva da emancipação humana dentro da ordem mundial vigente até aqui. Que fique claro: estamos falando aqui de emancipação real, de emancipação prática”. (idem 2, final, p. 41).
Por sua vez, submeter à crítica o Estado Islâmico não significa, na visão turva e maniqueísta, apoio à guerra imperialista travada no oriente médio pelos Estados Unidos e seus aliados. Aliás, reconhecer que o Estado Islâmico é abjeto, não faz dos imperialistas algo melhor. Mas exige posição coerente de quem luta pela emancipação humana. Esta pode ser entendida pelas seguintes palavras de Marx:
“A emancipação política é a redução do homem, por um lado, a membro da sociedade burguesa, a indivíduo egoísta independente, e, por outro, a cidadão, a pessoa moral. Mas a emancipação humana só estará plenamente realizada quando o homem individual real tiver recuperado para si o cidadão abstrato e se tornado ente genérico na qualidade de homem individual na sua vida empírica, no seu trabalho individual, nas suas relações individuais, quando o homem tiver reconhecido e organizado suas ‘forces propres’ (forças próprias) como forças sociais e, em conseqüência, não mais separar de si mesmo a força social na forma da força política”. (Idem 2, final p. 54).
Portanto, revolução política foi a revolução da sociedade burguesa e produziu somente a emancipação política. Ela não pode emancipar a humanidade, ou seja, não supera a sociedade de classes, pois se funda na particularidade e no interesse individualista. A revolução que pode conduzir a humanidade a sua emancipação real deve ser de outra natureza e por outra classe social, o proletariado (3). O Estado Islâmico está muito distante de possibilitar sequer a conquista daqueles direitos àquelas sociedades, o que se dirá de um movimento de igualdade material e formal. Ao contrário, o Estado Islâmico reivindica ser um Estado teológico, que em linhas mais simples, significa um longo caminhar de retrocesso.
“A emancipação política, expressa pela cidadania e pela democracia é, sem dúvida, uma forma de liberdade superior á liberdade existente na sociedade feudal, mas, na medida em que deixa intactas as raízes da desigualdade social, não deixa de ser ainda uma liberdade essencialmente limitada, uma forma de escravidão. A inclusão dos trabalhadores na comunidade política não ataca os problemas fundamentais deles, pois eles podem ser cidadãos sem deixarem de ser trabalhadores (assalariados), mas não podem ser plenamente livres sem deixarem de ser trabalhadores (assalariados)”. (4).   
Como todo socialista sabe, Marx expressou a contradição entre o projeto do proletariado e o da burguesia pela contradição entre o político e o social. A luta do proletariado deve ser social, pois a política não altera a sua condição material. Assim, era imperativo sair do ponto de vista político para poder imprimir uma transformação radical na sociedade. Isso significa, que a luta do proletariado não era dirigida para o conquista do poder político (o Estado), mas para sua supressão, já que a sua existência implicava (e implica) a manutenção da exploração do homem pelo homem (idem 3).
“A emancipação econômica das classes trabalhadoras é o objetivo primordial a que todo movimento político deve subordinar-se como meio” (KARL MARX).
Portanto, para os socialistas a revolução social tem o primado sob a revolução política, assim como a emancipação humana tem primado sob a emancipação política, pois somente elas (Revolução Social/ Emancipação Humana) podem levar a uma sociedade verdadeiramente humana (sociedade emancipada), eliminando efetivamente a exploração do homem pelo homem (3). O Estado Islâmico visa um retrocesso inimaginável, pois fruto de uma teologia fundamentalista. Cabe aos socialistas tanto expressarem repúdio, como promoverem ações contra a guerra imperialista no Oriente Médio, bem como deixar clarividente que o Estado Islâmico não representa em absolutamente nada o projeto emancipatório (e sequer tem pretensão de levar a cabo esse projeto).
É sempre preciso lembrar que os socialistas devem manter a consciência de que é a revolução social que representa a possibilidade da emancipação real, jamais a trilha teológica fundamentalista.

Referência:
1) Deixo de citar os blogs, fanpagens e twuiter com tal manifestação porque eles são predominantes nas redes sociais. Considerando que já fui expulso de 2 grupos, simplesmente porque tive a ousadia de educadamente pontuar alguns elementos para a discussão, a nomeação desses sites poderia ser equivocadamente entendida.
2) Na tradicional concepção marxista, emancipação política pode ser entendida como a conquista dos direitos humanos, especialmente dos direitos civis, declarados pelas revoluções burguesas. A respeito. MARX, Karl. A questão judaica. São Paulo: Editorial Boitempo, 2005.
3)DOMINGUES, Analéia; SOUZA, Osmar M. Emancipação Política e Humana em Marx: alguns apontamentos. Revista Eletrônica Arma da Crítica, n. 4, 2012.
4) TONET, Ivo. A propósito de “Glosas Críticas”. São Paulo: Expressão Popular, 2010, p. 27.



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