A POLÍCIA, A MILITARIZAÇÃO E O DIREITO À MANIFESTAÇÃO SOCIAL.

RESUMO: Baseando-se na brutal repressão ao movimento dos professores estaduais do Paraná, o texto olha para a forma como o sistema do capital dá uma imerecida autoridade à força policial para intimidar a população, no interesse de proteger o status quo.

Imagem do site UOL educação


Mais de 200 professores foram agredidos pela polícia militar no Estado do Paraná (nota 1). Eles faziam manifestação política contra a votação do projeto de lei, na Assembleia Legislativa, que altera regras previdenciárias (nota 2).
A polícia é um instrumento diferenciado do Estado. A polícia tem o direito legalmente sancionado de ser autoritária em um Estado democrático de direito. Aliás, uma das formas de caracterizar o Estado moderno é discorrer sobre o monopólio da força pelo Estado. A justificação para isso é que a lei é feita de modo “democrático”, daí que “todos” sancionaram tal legislação e, ainda mais, que a força policial tem como limite o perímetro delineado pela lei.
Nada obstante, algumas perguntas tão óbvias parecem que são, propositadamente, esquecidas no contexto da referida justificação da força policial monopolizada pelo Estado, sobretudo, quando há violência e abuso policial: quem pode pedir para a polícia deixar uma área ou não entrar em outra? Algum servidor do Estado, que não policial, pode ameaçar com sanção legal se você simplesmente perguntar o que os policiais estão fazendo ou porque eles estão fazendo isso?
Quem convive com o sistema policial militarizado brasileiro – utilizado por valentões que se tornam mais valente ainda por causa do uso da arma de fogo e outros instrumentos, que é admitido pelo Estado democrático de direito – está acostumado a temer a reação da polícia quando se exerce o direito à greve ou de manifestar-se politicamente. Entretanto, este não é um aspecto normal, sequer tem lastro na história das sociedades humanas. A maioria da existência da humanidade estava em sociedades não-estatais, sem polícia ou exércitos, tribunais  ou prisões.
O papel da polícia na sociedade capitalista moderna é a de proteger e servir os ricos. A polícia mantém uma estrutura de classe atual, a divisão da riqueza e da hierarquia social. Eles tentam evitar desafios para um sistema em que 85 pessoas possuem tanta riqueza como a metade da humanidade (nota 3).
Assim, quando há resistência a essa estrutura, tal como o caso concreto dos professores do Estado do Paraná em luta pela sua previdência, evitando a prioridade ao mercado em detrimento da aposentadoria, a força policial usa da violência para manter o sistema intacto. Assim também é o caso das prisões em diversas outras greves, despejo de famílias; uso de caminhões com mangueira de jato d’água, spray de pimenta, entre outros, para dispersar manifestantes.
A polícia militarizada e autoritária serve para o mercado. Quando há um conflito na sociedade, em vez de resolvê-lo democraticamente entre todos os membros envolvidos, os governantes usam o aparelho da polícia, do judiciário e militar para garantir que os interesses atendam ao piso de cima.
Uma sociedade controlada por tal aparelho não pode ser democrática. Aliás, é por isso que uma melhor formação para a polícia não é uma solução para a violência policial. O que se quer dizer com isso é que, em vez de aceitarmos o argumento de que a polícia deve ser melhor treinada no trabalho que eles fazem (e para o qual servem), devemos se opor, completamente, a tal proposta. De fato, a maioria das pessoas pensa que a polícia militar é necessária e, consequentemente, não podemos esperar grande êxito na construção de um movimento de massa, cujo objetivo seja abolir a polícia imediatamente. No entanto, quanto mais o movimento contra a brutalidade policial compreender o real papel da polícia na sociedade do capital, e quanto mais o movimento se opor a tal papel, mais forte e mais eficaz o movimento contra a militarização da polícia ficará.

Imagem do site Brasil Post
Em termos pragmáticos, devemos apoiar todos os esforços que limitam a polícia, minam a sua autoridade e forçam-na a ser menos repressiva. Tais reformas poderiam incluir conselhos civis de revisão com poder real; sanções aos comandantes, especialmente o comandante superior que é o Chefe do Poder Executivo local; e, sobretudo, a desmilitarização; além de eventualmente desarmar as forças policiais.
Uma importante observação: não devemos apoiar as reformas supostamente democráticas, tais como os conselhos consultivos comunitários com base apenas em ”mais interação entre a polícia e os moradores”. Apesar do nome “comunitário”, tais mecanismos têm o objetivo apenas de construir uma falsa relação de interação, e de confiança, entre a polícia e as comunidades. Nos casos concretos, a mesma hierarquia e subordinação dos quartéis são transferidas para a relação com os civis, que apenas legitimam a atuação policial.  
Advirta-se, mesmo com as melhores reformas, apenas podemos ter uma democracia real quando o poder estiver nas mãos de toda a população, e não nas mãos do capital que usa a força repressiva. Aliás, precisamos desafiar o abuso policial, mas também o poder do grande capital, pois seria inexplicável uma polícia não autoritária (contradição em termos) sem a sociedade burguesa autoritária.

Referências:






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