ELEIÇÕES 2018 E GOLPE DE 2016: A PROPOSTA DE RETOMADA DA CONCILIAÇÃO DE CLASSE AO HADDAD. O QUE APRENDEMOS COM A HISTÓRIA?
O Texto abaixo, do historiador, jornalista
e militante Valter Pomar noticia a possível retomada da política de conciliação
de classe do lulo-petismo, diante da falta de clareza sobre o desfecho das eleições
presidenciais de 2018.
Lembramos, por um lado que, em parte essa
política de conciliação facilitou o golpe judicial parlamentar de 2016,
fragilizou a resistência e promoveu o descasamento do governo com sua respectiva
base popular. Naquela oportunidade, se optou pela conciliação de classe no
ilusório pressuposto de que seria o atalho mais curto para as reformas que se pretendia.
Se assumiu integralmente o presidencialismo de coalizão. Líderes dos movimentos
sociais foram chamados a ocupar cargos no governo, enfraquecendo, em parte, a
força popular.
Pelo outro lado, sim, foi possível implantar
programas (Bolsa Família, PROUNI, Mais Médicos, Brasil Sorridente, entre
diversos outros) que minoraram as mazelas da desigualdade social, sem contudo,
atacar a estrutura da desigualdade social. Aliás, alguns desses programas são
apoiados e/ou financiados por instituições imperialistas (Banco Mundial, FMI, EU,
ONU) em outros territórios.
De qualquer modo, mesmo o PT mantendo
ligação com os movimentos de onde veio, não via neles o sustentáculo de seu
poder, mas a coalizão pluriforme de partidos. Se tivesse observado um pouco a
história, teria sabido do risco desta política de coalização que atualiza a
política de conciliação do passado. Por isso, em aproximadamente 13 anos, não se
conseguiu fazer nenhuma reforma estrutural, nem a política, nem a econômica,
nem a tributária e muito menos a reforma agrária. Mas vamos ao texto:
Kennedy e Lisboa: sutis como Shrek
Desde o início, muitas pessoas
subestimaram o golpe.
Achavam que era coisa de uma minoria
radicalizada, achavam que “eles” não ousariam ir tão longe, achavam que as
instituições não deixariam a coisa prosperar etc.
Um dos efeitos colaterais desta
subestimação foi e segue sendo a crença nas análises e promessas feitas por
certos advogados.
Uma dessas promessas foi feita na reunião
do Diretório Nacional do PT, dia 16 de dezembro de 2017: “Lula estará na urna
eletrônica dia 7 de outubro”. No mesmo dia, aliás, foi dito também que havia
grandes chances de um resultado positivo no julgamento do TRF4.
A subestimação do golpe e a crença de que
as leis são iguais para todos tiveram efeitos paradoxais.
Por um lado, contribuíram para que a
mobilização fosse menor e menos radicalizada do que seria necessário diante de
tamanha violência; e também menor e menos radicalizada do que talvez fosse
possível (não tentamos, portanto não há como saber com certeza).
Por outro lado, a subestimação e a crença,
também contribuíram para que tivesse ampla maioria, na esquerda brasileira, a
tática de esticar a corda.
Afinal, mesmo quem subestimava os
golpistas e achava que o “estado de direito” no final prevaleceria, acreditava
também que, esticando a corda, obrigaríamos os golpistas a voltar atrás e a
cumprir a lei, garantindo a presença de Lula na urna.
Mas, tanto no PT quanto na esquerda, havia
também muita gente que nunca subestimou o golpe, que nunca tomou ao pé da letra
as promessas dos advogados, que sempre trabalhou com a hipótese de que no final
os golpistas impediriam Lula de estar na urna.
Mas este setor sem crença nem subestimação
estava dividido sobre o que fazer: de um lado estavam os defensores do “plano
B”; de outro lado os defensores de que “eleição sem Lula é fraude”.
Durante vários meses, os defensores do
“plano B” foram derrotados, dentro e fora do PT, por uma aliança entre os que
defendiam que “eleição sem Lula é fraude”, com aqueles que acreditavam que no
final ia dar tudo certo.
Entretanto, a maior parte dos dirigentes
da esquerda brasileira nunca considerou a sério a possibilidade de denunciar e
boicotar as eleições presidenciais.
Aliás, até mesmo setores que “fizeram
carreira” denunciando o “eleitoralismo” e o “institucionalismo” dos outros,
estão agora enfiados de cabeça na campanha eleitoral.
Os motivos são vários: análise da
correlação de forças e das possibilidades políticas; avaliação de que não
devemos contribuir voluntariamente para desacumular forçar; hábitos e crenças
arraigadas desde 1989; temor de contribuir, por WO, para um desfecho trágico;
e, principalmente, a aposta de que apesar de tudo podemos obter vitórias,
totais ou parciais, se participarmos das eleições presidenciais.
A tática de esticar a corda foi um sucesso
enquanto durou.
O sucesso foi tão grande, que efetivamente
cresceram as chances do PT vencer as eleições presidenciais, mesmo sem ter Lula
como candidato.
Muitos defensores do “plano B” reconhecem,
agora, que teria sido um erro abrir mão, ali atrás, da candidatura Lula. Alguns
até esqueceram que algum dia, no passado distante, defenderam aquela posição.
Mas no dia 11 de setembro, chegou a hora
da verdade: não substituir a candidatura ali implicaria em correr o risco de
toda a chapa presidencial ser impugnada.
E como a hipótese de denunciar e boicotar
as eleições presidenciais nunca foi considerada a sério pela maioria dos
dirigentes da esquerda brasileira, pelos motivos já explicados, prevaleceu a
decisão de fazer as alterações anunciadas em Curitiba: no lugar de Lula e Haddad,
Haddad e Manu.
Nunca é demais reafirmar: esta alteração
nos foi imposta pelos golpistas, de fora para dentro. Fomos obrigados a tirar
Lula da chapa. E o objetivo dos golpistas é claro: tirando Lula, fraudar o
resultado das eleições.
Nossa tarefa agora é fazer de tudo para
impedir que a fraude se consume.
Ou seja, fazer de tudo para eleger a chapa
Haddad e Manu.
Isto pode parecer algo relativamente
fácil, já que exige “apenas” transferir para Haddad as intenções de voto até
agora de Lula.
Mas não será nada fácil.
Será preciso comunicar ao “eleitorado
lulista” que Lula pede que se vote em Haddad; será preciso convencer este
eleitorado a fazer isto; será preciso enfrentar o assédio de outras
candidaturas, assédio que receberá a contribuição direta e indireta dos meios
de comunicação golpistas; e será preciso enfrentar outras operações, promovidas
pelos golpistas, para impedir que o povo derrote o golpe nas urnas.
Se tivermos êxito, no fundo terá sido Lula
quem venceu as eleições, conforme é explicado no texto abaixo:
http://valterpomar.blogspot.com/2018/09/a-orientacao-de-lula.html
Entre as operações patrocinadas ou
estimuladas pelo golpismo, está uma tão sutil quanto Shrek: nos convencer a
assumir certos compromissos com os mercados, para tornar supostamente mais
palatável nossa candidatura, vitória, posse e governo.
Por exemplo, indicar Marcos Lisboa para
ministro da Fazenda.
É isto que propõe o jornalista Kennedy
Alencar, conforme se pode ler no texto abaixo, divulgado no dia 11 de setembro,
as 21h50:
https://www.blogdokennedy.com.br/marcos-lisboa-resume-perfil-de-ministro-da-fazenda-de-haddad/
O lobby a favor de Lisboa como ministro da
Fazenda foi precedido, dias antes, pela entrevista concedida por Guilherme
Mello ao jornal Valor, entrevista comentada no texto abaixo:
http://valterpomar.blogspot.com/2018/09/os-mercados-pensam-com-o-figado.html
Nosso problema, tanto para vencer as
eleições, quanto para tomar posse e governar, é exatamente o oposto do que nos
é proposto grosseiramente por Kennedy e sugerido por Mello.
Não temos que dar garantias aos mercados
financeiros.
Temos que dar garantias ao povo e à
militância, não apenas de que em nosso governo Lula será livre, mas também de
que em nosso governo vamos dar um cavalo de pau na política econômica e social
adotada pelos golpistas.
A eleição não está ganha. A fraude
continua sendo um risco imenso. Eleição sem Lula é fraude, mas não é impossível
derrotar a fraude.
E já que decidimos participar do processo,
é preciso ter uma política que nos leve à vitória, não à derrota.
O primeiro passo é levar Haddad ao segundo
turno. Isto só não acontecerá se cometermos erros imensos. Um deles seria
esquecer do que ocorreu em 2015.
texto original: http://valterpomar.blogspot.com/2018/09/kennedy-e-lisboa-sutis-como-shrek.html
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